(ENEM PPL - 2019) No digo que seja uma mulher perdida, mas recebeu uma educao muito livre, saracoteia sozinha por toda a cidade e no tem podido, por conseguinte, escapar implacvel maledicncia dos fluminenses. Demais, est habituada ao luxo, ao luxo da rua, que o mais caro; em casa arranjam-se ela e a tia sabe Deus como. No mulher com quem a gente se case. Depois, lembra-te que apenas comeas e no tens ainda onde cair morto. Enfim, s um homem: faze o que bem te parecer. Essas palavras, proferidas com uma franqueza por tantos motivos autorizada, calaram no nimo do bacharel. Intimamente ele estimava que o velho amigo de seu pai o dissuadisse de requestar a moa, no pelas consequncias morais do casamento, mas pela obrigao, que este lhe impunha, de satisfazer uma dvida de vinte contos de ris, quando, apesar de todos os seus esforos, no conseguira at ento pr de parte nem o tero daquela quantia. AZEVEDO, A. A dvida. Disponvel em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20 ago. 2017. O texto, publicado no fim do sculo XIX, traz tona representaes sociais da sociedade brasileira da poca. Em consonncia com a esttica realista, traos da viso crtica do narrador manifestam-se na
(ENEM PPL - 2019) As alegres meninas que passam na rua, com suas pastas escolares, s vezes com seus namorados. As alegres meninas que esto sempre rindo, comentando o besouro que entrou na classe e pousou no vestido da professora; essas meninas; essas coisas sem importncia. O uniforme as despersonaliza, mas o riso de cada uma as diferencia. Riem alto, riem musical, riem desafinado, riem sem motivo; riem. Hoje de manh estavam srias, era como se nunca mais voltassem a rir e falar coisas sem importncia. Faltava uma delas. O jornal dera notcia do crime. O corpo da menina encontrado naquelas condies, em lugar ermo. A selvageria de um tempo que no deixa mais rir. As alegres meninas, agora srias, tornaram-se adultas de uma hora para outra; essas mulheres. ANDRADE, C. D. Essas meninas. Contos plausveis. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1985. No texto, h recorrncia do emprego do artigo as e do pronome essas. No ltimo pargrafo, esse recurso lingustico contribui para
(ENEM PPL - 2019) Voc vende uma casa, depois de ter morado nela durante anos; voc a conhece necessariamente melhor do que qualquer comprador possvel. Mas a justia , ento, informar o eventual comprador acerca de qualquer defeito, aparente ou no, que possa existir nela, e mesmo, embora a lei no obrigue a tanto, acerca de algum problema com a vizinhana. E, sem dvida, nem todos ns fazemos isso, nem sempre, nem completamente. Mas quem no v que seria justo faz-lo e que somos injustos no o fazendo? A lei pode ordenar essa informao ou ignorar o problema, conforme os casos; mas a justia sempre manda faz-lo. Dir-se- que seria difcil, com tais exigncias, ou pouco vantajoso, vender casas... Pode ser. Mas onde se viu a justia ser fcil ou vantajosa? S o para quem a recebe ou dela se beneficia, e melhor para ele; mas s uma virtude em quem a pratica ou a faz. Devemos ento renunciar nosso prprio interesse? Claro que no. Mas devemos submet-lo justia, e no o contrrio. Seno? Seno, contente-se com ser rico e no tente ainda por cima ser justo. COMTE-SPONVILLE, A. Pequeno tratado das grandes virtudes. So Paulo: Martins Fontes, 1995. No processo de convencimento do leitor, o autor desse texto defende a ideia de que
(ENEM PPL - 2019) As montanhas correm agora, l fora, umas atrs das outras, hostis e espectrais, desertas de vontades novas que as humanizem, esquecidas j dos antigos homens lendrios que as povoaram e dominaram. Carregam nos seus dorsos poderosos as pequenas cidades decadentes, como uma doena aviltante e tenaz, que se aninhou para sempre em suas dobras. No podendo mat-las de todo ou arranc-las de si e vencer, elas resignam-se e as ocultam com sua vegetao escura e densa, que lhes serve de coberta, e resguardam o seu sonho imperial de ferro e ouro. PENNA, C. Fronteira. Rio de Janeiro: Artium, 2001. As solues de linguagem encontradas pelo narrador projetam uma perspectiva lrica da paisagem contemplada. Essa projeo alinha-se ao potico na medida em que
(ENEM PPL - 2019) Eu gostaria de comentar brevemente as afinidades existentes entre comunidade, comunicao e comunho. Essas afinidades comeam no prprio radical das palavras em questo. Assim, se nosso alvo so os atos de interao comunicativa, temos que incluir em nosso objeto de estudo a ecologia dos atos de interao comunicativa, que se do no contexto da ecologia da interao comunicativa. No entanto, no basta a proximidade espacial para que a comunicao se d, necessrio que os potenciais interlocutores entrem em comunho. Por fim, sem trocadilhos, a comunicao ideal se d no interior de uma comunidade, entre indivduos que entram em comunho. COUTO, H. H. O Tao da linguagem. Campinas: Pontes, 2012. O trecho integra um livro sobre os aspectos ecolgicos envolvidos na interao comunicativa. Para convencer o leitor das afinidades entre comunidade, comunicao e comunho, o autor
(ENEM PPL - 2019) Eis o ensinamento de minha doutrina: Viva de forma a ter de desejar reviver o dever , pois, em todo caso, voc reviver! Aquele que ama antes de tudo se submeter, obedecer e seguir, que obedea! Mas que saiba para o que dirige sua preferncia, e no recue diante de nenhum meio! a eternidade que est em jogo!. NIETZSCHE apud FERRY, L. Aprender a viver: filosofia para os novos tempos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010 (adaptado). O trecho contm uma formulao da doutrina nietzscheana do eterno retorno, que apresenta critrios radicais de avaliao da
(ENEM PPL - 2019) A linguagem uma grande fora de socializao, provavelmente a maior que existe. Com isso no queremos dizer apenas o fato mais ou menos bvio de que a interao social dotada de significado praticamente impossvel sem a linguagem, mas que o mero fato de haver uma fala comum serve como um smbolo peculiarmente poderoso da solidariedade social entre aqueles que falam aquela lngua. SAPIR, E. A linguagem. So Paulo: Perspectiva, 1980. O texto destaca o entendimento segundo o qual a linguagem, como elemento do processo de socializao, constitui-se a partir de uma
(ENEM PPL - 2019) O Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro (IHGB) reuniu historiadores, romancistas, poetas, administradores pblicos e polticos em torno da investigao a respeito do carter brasileiro. Em certo sentido, a estrutura dessa instituio, pelo menos como projeto, reproduzia o modelo centralizador imperial. Assim, enquanto na Corte localizava-se a sede, nas provncias deveria haver os respectivos institutos regionais. Estes, por sua vez, enviariam documentos e relatos regionais para a capital. DEL PRIORE, M.; VENNCIO, R. Uma breve histria do Brasil. So Paulo: Planeta do Brasil, 2010 (adaptado). De acordo com o texto, durante o reinado de D. Pedro II, o referido instituto objetivava
(ENEM PPL - 2019) Para dar conta do movimento histrico do processo de insero dos povos indgenas em contextos urbanos, cuja memria reside na fala dos seus sujeitos, foi necessrio construir um mtodo de investigao, baseado na Histria Oral, que desvelasse essas vivncias ainda no estudadas pela historiografia, bem como as conflitivas relaes de fronteira da decorrentes. A partir da histria oral foi possvel entender a dinmica de deslocamento e insero dos ndios urbanos no contexto da sociedade nacional, bem como perceber os entrelugares construdos por estes grupos tnicos na luta pela sobrevivncia e no enfrentamento da sua condio de invisibilidade. MUSSI, P. L. V. Tronco velho ou ponta da rama? A mulher indgena terena nos entrelugares da fronteira urbana. Patrimnio e Memria, n. 1, 2008. O uso desse mtodo para compreender as condies dos povos indgenas nas reas urbanas brasileiras justifica-se por
(ENEM PPL - 2019) Uma privatizao do espao maior do que aquela proporcionada pelo quarto evidencia-se cada vez mais nos sculos XVII e XVIII. Como as ruelles [espao entre a cama e a parede], as alcovas so espaos alm do leito, longe da porta que d acesso sala (ou antecmara, nas casas da elite). Thomas Jefferson, tecnlogo do estilo sculo XVIII, mandou construir uma parede em torno de sua cama a fim de fechar completamente o pequeno cmodo alm do leito cmodo no qual s ele podia entrar, descendo da cama do lado da ruelle. RANUM, O. Os refgios da intimidade. In: CHARTIER, R. (Org.). Histria da vida privada: da Renascena ao Sculo das Luzes. So Paulo: Cia. das Letras, 2009 (adaptado). A partir do sculo XVII, a histria da casa, que foi se modificando para atender aos novos hbitos dos indivduos, provocou o(a)
(ENEM PPL - 2019) Os pesquisadores que trabalham com sociedades indgenas centram sua ateno em documentos do tipo jurdico-administrativo (visitas, testamentos, processos) ou em relaes e informes e tm deixado em segundo plano as crnicas. Quando as utilizam, do maior importncia quelas que foram escritas primeiro e que tm carter menos terico e intelectualizado, por acharem que estas podem oferecer informaes menos deformadas. Contrariamos esse posicionamento, pois as crnicas so importantes fontes etnogrficas, independentemente de serem contemporneas ao momento da conquista ou de terem sido redigidas em perodo posterior. O fato de seus autores serem verdadeiros humanistas ou pouco letrados no desvaloriza o contedo dessas crnicas. PORTUGAL, A. R. O ayllu andino nas crnicas quinhentistas: um polgrafo na literatura brasileira do sculo XIX (1885-1897). So Paulo: Cultura Acadmica, 2009. As fontes valorizadas no texto so relevantes para a reconstruo da histria das sociedades pr-colombianas porque
(ENEM PPL - 2019) Toms de Aquino, filsofo cristo que viveu no sculo XIII, afirma: a lei uma regra ou um preceito relativo s nossas aes. Ora, a norma suprema dos atos humanos a razo. Desse modo, em ltima anlise, a lei est submetida razo; apenas uma formulao das exigncias racionais. Porm, mister que ela emane da comunidade, ou de uma pessoa que legitimamente a representa. GILSON, E.; BOEHNER, P. Histria da filosofia crist. Petrpolis: Vozes, 1991 (adaptado). No contexto do sculo XIII, a viso poltica do filsofo mencionado retoma o
(ENEM PPL - 2019) TEXTO I Eu queria movimento e no um curso calmo da existncia. Queria excitao e perigo e a oportunidade de sacrificar-me por meu amor. Sentia em mim uma superabundncia de energia que no encontrava escoadouro em nossa vida. TOLSTI, L. Felicidade familiar. Apud KRAKAUER, J. Na natureza selvagem. So Paulo: Cia. das Letras, 1998. TEXTO II Meu lema me obrigava, mais que a qualquer outro homem, a um enunciado mais exato da verdade; no sendo suficiente que eu lhe sacrificasse em tudo o meu interesse e as minhas simpatias, era preciso sacrificar-lhe tambm minha fraqueza e minha natureza tmida. Era preciso ter a coragem e a fora de ser sempre verdadeiro em todas as ocasies. ROUSSEAU, J.-J. Os devaneios do caminhante solitrio. Porto Alegre: LPM, 2009. Os textos de Tolsti e Rousseau retratam ideais da existncia humana e defendem uma experincia
(ENEM PPL - 2019) Lembro, a propsito, uma cerimnia religiosa a que assisti na noite de Santo Antnio de 1975 quando presente a uma festa em honra do padroeiro. Ia a coisa assim bonita e simples, at que, recitadas as cinco dezenas de ave-marias e os seus padre-nossos, chegou a hora do remate com o canto da salve-rainha. O capelo comeou a entoar nesse instante hino Virgem, em latim Salve Regina, mater misericordiae, e, o que eu estranhei, foi seguido de pronto sem qualquer hesitao pelos presentes. Depois veio o espantoso para mim: a reza, tambm entoada, de toda a extensa ladainha de Nossa Senhora igualmente em latim. Eu olhava e no acabava de crer: aqueles caboclos que eu via mourejando de serventes nas obras do bairro estavam agora ali acaipirando lindamente a poesia medieval do responso. BOSI, A. Dialtica da colonizao. So Paulo: Cia. das Letras, 1992. O estranhamento do autor diante da cerimnia relaciona-se ao encontro de temporalidades que
(ENEM PPL - 2019) O frevo uma forma de expresso musical, coreogrfica e potica, enraizada no Recife e em Olinda, no estado de Pernambuco. O frevo formado pela grande mescla de gneros musicais, danas, capoeira e artesanato. uma das mais ricas expresses da inventividade e capacidade de realizao popular na cultura brasileira. Possui a capacidade de promover a criatividade humana e tambm o respeito diversidade cultural. No ano de 2012, a Unesco proclamou o frevo como Patrimnio Imaterial da Humanidade. PORTAL BRASIL. Disponvel em: www.brasil.gov.br. Acesso em: 10 fev. 2013. A caracterstica da manifestao cultural descrita que justifica a sua condio de Patrimnio Imaterial da Humanidade a